Como era maravilhoso ser adolescente na década de oitenta. Quem viveu a época, sabe a sensação de ligar a televisão de tarde, após uma manhã estafante na escola, escutar aquela trilha sonora eletrônica característica, que sempre emoldurava altas paqueras em Fort Lauderdale e Miami Beach. Aquelas belas garotas de biquíni e a consequente nudez eventual, que torcíamos para que ocorresse com mais frequência. Morríamos de rir com as tentativas desastradas dos rapazes, sem nos preocuparmos com a pobreza dos roteiros. Estávamos num estágio anterior aos “Emmanuelle’s” das madrugadas da Rede Bandeirantes, sendo presenteados de vez em quando pelas pornochanchadas nacionais que o SBT exibia nas noites de domingo. Como esquecer a inesquecível Clara das Neves, vivida por Adele Fátima? Não tínhamos internet, nem TV a cabo. As comédias sexuais adolescentes eram eventos impactantes quando exibidas nas tardes, forçando-nos a atrasar a entrega dos deveres de casa do dia seguinte.

Pensando nesta época dominada pelo maravilhoso politicamente incorreto, passei alguns dias revendo vários filmes do subgênero. Os selecionados possuem elementos característicos, como o toque certo de grosseria no humor, alta dose de audácia e sensualidade. E, claro, são garantia de um ótimo entretenimento, tão divertidos hoje quanto na época em que eu os conheci, trancado no quarto, com o uniforme da escola.

10 – Primavera na Pele (Spring Break – 1983)

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Dois adolescentes vão passar as férias na Flórida. Lá, dividem o quarto de hotel com dois rapazes mais velhos e experientes, que se encarregam de ensinar a arte da conquista para os novatos.

O roteiro é mais fraco do que o usual no tema, mas tive que inserir na lista por seu valor nostálgico. Talvez tenha sido o mais reprisado nas tardes do “Cinema em Casa” do SBT, a sequência do concurso das garotas com camisetas molhadas balançava os corações de todos os nerds.

9 – A Última Festa de Solteiro (Bachelor Party – 1984)

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Rick Gasko, um motorista de ônibus escolar, está a ponto de se casar com Deborah Julie Thompson. Os pais dela o odeiam e o ex-namorado dela também, assim, usando o dinheiro que eles têm, planeja criar uma situação que faça com que Debbie desista de Rick. Para complicar ainda mais, os amigos dele resolvem promover uma despedida de solteiro que, como todas as despedidas de solteiro, é em um hotel caro, com muita bebida, prostitutas e filmes pornográficos.

Já na primeira sequência, em que acompanhamos Tom Hanks dirigindo o ônibus escolar católico mais politicamente incorreto da cidade, percebemos estar diante de um roteiro audacioso. Sem concessões, as piadas grosseiras vão num crescendo, correndo riscos e sendo amparadas pela química do elenco. “Se Beber, não Case”, filho legítimo deste projeto, mesmo tendo sido realizado décadas depois, não consegue superar esta pequena gema em seu subgênero.

8 – Uma Escola Muito Especial – Para Garotas (Private School – 1983)

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Cherryvale Academy, é uma escola para moças que fica ao lado da academia masculina Peables. Christine e Betsy, namoram dois jovens: Jim e Bubba! Jordan, é a garota mais popular de Cherryvale, inconformada e morrendo de ciúmes do namoro de Jim e Chris, planeja separar, a qualquer custo, o belo casal, mas a escola para garotas é virada de cabeça para baixo pelas aulas de educação sexual e pela pesquisa de campo realizada com o auxílio dos garotos do colégio vizinho.

Qualquer filme com a presença da belíssima Phoebe Cates já mereceria menção honrosa, mas esta pérola consegue agregar a participação especial da deusa Sylvia Kristel, nada menos que a própria Emmanuelle. Hoje em dia a garotada vibra ao ver seus super-heróis favoritos dos quadrinhos na tela grande, mas na minha época os garotos vibravam mesmo era com o crossover Kristel/Cates. As aulas no dia seguinte podiam até ser canceladas, praticamente um dia santo.

7 – Férias da Pesada (Fraternity Vacation – 1985)

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Durante um feriado, dois jovens vão à caça de garotas em Palm Springs, eles levam o último dos nerds, Wendell, somente porque seus pais pagariam toda a viagem.

Também conhecido como “A Primeira Transa de Um Nerd” e “Quando a Turma Sai de Férias”, este eu perdi a conta de quantas vezes assisti quando adolescente. Eu me identificava demais com o personagem nerd vivido por Stephen Geoffreys (que fez “A Hora do Espanto” e, anos depois, virou ator pornô homossexual), mas não tinha amigos populares bacanas como os dele. É legal perceber a presença, numa ponta, do Sr. Tanner da série “Alf – O ETeimoso”, Max Wright, como o pai do jovem nerd. Tim Robbins, antes da fama por “Um Sonho de Liberdade”, interpreta um dos amigos do garoto. Dentre as cenas que continuam muito engraçadas, vale ressaltar o encontro do nerd com os pais de sua primeira namorada, vivida por Amanda Bearse (de “A Hora do Espanto” e da série “Married With Children”), além do hilário momento em que os dois rapazes populares se preparam para dividirem a cama com duas beldades, Barbara Crampton e Kathleen Kinmont. Existiam outros filmes melhores, mas nutro um carinho especial por este, talvez porque naquela época eu sonhava que aparecesse alguma garota na turma como a belíssima Sheree J. Wilson, que visse além dos óculos e da timidez desajeitada do nerd.

6 – Mulher Nota Mil (Weird Science – 1985)

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Gary e Wyatt são dois adolescentes nada populares com o sexo oposto. Eles resolvem criar no computador a mulher que eles acreditam ser a ideal. Uma tempestade dá vida a ela, que é “batizada” como Lisa, sexy, bonita, determinada, fiel aos seus criadores, mas com um modo de ser que deixa desconcertados todos que cruzam o seu caminho.

Não podia faltar na lista uma obra do mestre John Hughes, ainda que seus projetos fossem refinados demais para o que estávamos acostumados no subgênero. O roteiro falava diretamente ao desejo de cada adolescente introvertido, mostrando dois garotos criando no computador a mulher ideal, com a sensualidade absurda de Kelly LeBrock, que já havia desconcertado Gene Wilder em “A Dama de Vermelho”, no ano anterior. Como era característico, não podia faltar na trilha sonora uma contribuição do Oingo Boingo, gênese de Danny Elfman, parceiro constante de Tim Burton. A grande tirada do filme é a Lisa, desajustada na sociedade (como o monstro de Frankenstein), ajudando os garotos a serem respeitados por seus colegas. E é bacana encontrar, numa ponta, um jovem Robert Downey Jr., mas a cena que lembro sempre que penso no filme é aquela em que os dois garotos (Anthony Michael Hall e Ilan Mitchell-Smith) estão tomando banho com Lisa. Todos os colegas da turma, no dia seguinte, só falavam nisto.

5 – Férias do Barulho (Private Resort – 1985)

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Jack (Johnny Depp) e seu amigo Ben (Rob Morrow) vão para um hotel na Flórida planejando passar cada minuto de sua estadia procurando por lindas garotas. Mas seus planos vão por água abaixo quando eles tentam seduzir a mulher de um ladrão de joias (Hector Elizondo). Eles vão ter que ser mais espertos do que ele, um cruel segurança e um repulsivo escocês se quiserem passar um tempo a sós com as garotas de seus sonhos.

A balada romântica escolhida para emoldurar os créditos finais em berrante azul, “Summer Eve” (de Bill Wray) e seus intermináveis: “na-na-na-na, ô-ô-ô-ô”, já deixam bastante claro o tom desta comédia. Um dos méritos da obra de George Bowers (que viria a trabalhar novamente em um projeto com Depp, como editor em “Do Inferno”, de 2001) é conseguir fazer você sentir que está naquele resort com a dupla de protagonistas. O roteiro episódico não explica absolutamente nada sobre nenhum personagem, mas isto não impede que você se sinta parte daquele universo pelo curto tempo de duração. Como não sorrir com a revelação de Shirley (Hilary Shepard) em seu culto ao guia espiritual “Baba Rama Nana”? Faço questão de relevar todas as falhas do filme, pelas gargalhadas que dou acompanhando as desventuras dos desastrados jovens tentando esconder a esposa bêbada e seminua de um troglodita, enquanto aquele tema musical pegajoso (“Ba Ba Ben”, de Bill Wray) emoldura a ação.

4 – Negócio Arriscado (Risky Business – 1983)

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Joel Goodsen (Tom Cruise) nasceu em Chicago, tem apenas 17 anos e está a caminho da faculdade. Inteligente e responsável, ele é considerado um rapaz de futuro, o filho ideal. Mas ele tem sido “bonzinho” há muito tempo. Quando seus pais, que são superprotetores, viajam de férias, deixam a casa sob sua responsabilidade. Atraído pela liberdade, seu primeiro passo é um ataque ao armário de bebidas, seguida de uma voltinha proibida no carro do pai e uma noite de paixão com uma garota de programa (Rebecca de Mornay).

Ainda que seja essencialmente uma comédia sexual adolescente, o subtexto toca em questões profundas, como a angústia típica de uma fase exploratória, equivocadamente tida por muitos como uma sucessão de festas e gargalhadas. O arco narrativo do protagonista, vivido por Tom Cruise, retrata com perfeição o fim da inocência, aquele momento na vida em que percebemos que o mundo é pintado em tons de cinza. Sobra espaço até mesmo para uma poderosa crítica à sociedade consumista. Caso a lista levasse em consideração apenas a qualidade da obra, fora de contexto, este filme ficaria em primeiro lugar. Os diálogos são inteligentes, num nível muito acima do que normalmente esperamos de obras do subgênero, como o lema que é ensinado ao protagonista: “De vez em quando diga: que se dane. Isto traz liberdade. Liberdade traz oportunidades. Oportunidades fazem o seu futuro”. Suas sequências oníricas ousadas elevam ainda mais a qualidade do material. Ela está mais para “A Primeira Noite de Um Homem” ou “American Graffiti – Loucuras de Verão”, do que para “American Pie”.

3 – Porky’s – A Casa do Amor e do Riso (Porky’s – 1982)

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As cômicas desventuras de seis estudantes que estão desesperados para encontrar a satisfação sexual no Porky’s, um famoso “pulgueiro” onde há shows de strip-tease. Quando eles são expulsos de lá e atirados para fora pelo dono do local, eles arquitetam um plano de vingança que é realmente inesquecível.

Não importa que o filme tenha envelhecido mal, ele é o símbolo de todos os elementos que seriam copiados à exaustão nos anos seguintes. Algumas cenas continuam muito eficientes, como a hilária reação dos jovens pervertidos, enquanto escutam a conversa entre o diretor da escola e a mulher que busca descobrir quem ousou exibir seu órgão sexual pelo buraco na parede do banheiro feminino. O mau gosto, neste caso, agrega ao resultado final. E é interessante que o filme seja ambientado na década de cinquenta, ousadia narrativa que seus imitadores nunca arriscariam emular.

2 – Picardias Estudantis (Fast Times at Ridgemont High – 1982)

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O roteirista estreante Cameron Crowe se disfarçou de aluno de colégio para trazer uma trama recheada de sexo, drogas e rock and roll, criando alguns dos mais memoráveis personagens já vistos no gênero. Está tudo aqui, desde as aventuras sexuais de Stacy (Jennifer Jason Leigh) e Linda (Phoebe Cates), a rápida carreira de Brad (Judge Reinhold) no mundo das lanchonetes, até o inesquecível e maluco surfista Spicoli (Sean Penn).

Assim como todos os garotos que assistiram na época, eu posso lembrar perfeitamente do impacto da cena em que a bela Phoebe Cates sai lentamente da piscina, no sonho erótico do personagem vivido por Judge Reinhold, caminha em direção à câmera com um olhar sedutor e tira a parte de cima do biquíni. Acho engraçado quando leio textos sobre o filme, escritos por jovens que viveram aquela época, salientando apenas a participação do Sean Penn. Ah, não sejamos hipócritas. Eu somente fui notar a presença dele no filme depois de anos. Na adolescência, não perdia uma exibição do filme no SBT, somente por causa da Cates e da doçura levemente sensual de Jennifer Jason Leigh. Para organizar esta lista, tive que despedir por algumas horas o meu lado “crítico de cinema”, resgatando apenas aquele garoto tímido de outrora, numa época sem internet e televisão a cabo, que torcia para chegar a sexta-feira à noite, somente para colocar na Bandeirantes e ver os filmes do “Sexta Sexy”. “Picardias Estudantis” me remete diretamente a este período da minha vida.

1 – O Último Americano Virgem (The Last American Virgin – 1982)

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Começo dizendo que este é um daqueles filmes que fizeram todos os garotos introvertidos da década de oitenta sonharem em trabalhar como entregadores de pizza. Vários projetos seguiam esta tendência. Você, com sorte, seria praticamente estuprado por alguma milf ninfomaníaca sensacional como a Carmelita, vivida pela Louisa Moritz. E quem não sonhou em namorar a Karen (Diane Franklin)? Claro, ela provavelmente iria partir seu coração sem piedade, mas o processo até o desfecho valeria a pena.

O filme é uma refilmagem quase que idêntica do israelense “Sorvete de Limão”, dirigido pelo mesmo Boaz Davidson, acompanhando as aventuras sexuais de três rapazes. O mais tímido e respeitador, Gary (Lawrence Monoson), acaba se apaixonando perdidamente pela garota que está saindo com o cara popular da escola. Ela despreza o garoto, até que, após ser abandonada grávida, encontra nele seu refúgio. Ao som de “I Will Follow”, do U2, o rapaz vende tudo que tem, faz o diabo para conseguir levantar a grana do aborto, depois de ter oferecido moradia provisória para a menina se esconder dos pais, sacrifício tremendo que culmina na sequência final mais triste do cinema adolescente do período. Posso estar exagerando, mas até hoje, quando escuto “Just Once”, do James Ingram, sinto vontade de tacar uma pedra na televisão. Eu, obviamente, sentia forte identificação com o Gary, logo, aquele flagra na cozinha me traumatizou. Que garota miserável! Naquele momento ele realmente perdeu a “virgindade”, a pureza, a crença na bondade humana. O mundo é injusto.

Por: Octavio Caruso