Estava eu do lado de fora da janela do meu prédio, prestes a saltar do 10º andar e acabar de vez com o meu sofrimento, quando alguém se senta mesmo ao meu lado! Era um homem, com uma longa barba, cabelo despenteado e com um pouco de mal aspecto. Creio que era um mendigo! Lá em baixo via os pontos pequenos das pessoas que se iam juntando para ver o que se estava a passar, juntamente com os polícias e ambulâncias que entretanto alguém já tinha chamado.

A primeira coisa que o homem me disse foi: “Pula! Não é isso que você quer?” E eu pensei para comigo: “Eu vou pular!”

Mas depois ele continuou: “A cada quatro segundos alguém tenta o suicídio! Sabia? Agora é interessante! O suicídio é um homicídio. Ele se mata primeiro, claro, mas ele acaba matando também todos aqueles que ficam vivos. Família, filhos! Olhe para você! Preso na sua gaiola emocional, alienado às misérias maiores que as suas. Quem disse que você não conseguia carregar com o peso dos seus problemas?”

Farto daquele discurso moralista, gritei: “Você não sabe do que está a falar!!”

Mas ele continuou: “Eu respeito a sua dor! Ela é só sua! É a única coisa que você consegue realmente sentir. E acima de tudo eu admiro a sua coragem!”

E eu pensei: “Coragem?? Onde é que isto é coragem??”

Ele: “Imagine lançar-se desta altura, esmagar todo o seu corpo em troca de uma noite tranquila na solidão!”

O homem aproximou-se e olhando para mim perguntou: “Você está a sentir o seu coração? Parece que vai explodir do seu peito, não é? Está gritando para você deixar de ser egocêntrico. Seja o que for que pretende encontrar lá em baixo, tem uma chance, as dúvidas que estão surgindo cá em cima. Os suicidas não se querem matar, querem matar a sua dor!”

O que ele disse deixou-me a pensar!

“Eu vendo o que o dinheiro não pode comprar” – continuou ele. “Coragem para os inseguros! Ousadia para os fóbicos! Sensatez para os incautos!”

Com tudo isto, acabei por me sentar e perguntei-lhe: “E para os suicidas? O que é que você vende?”

Uma vírgula, uma pequena vírgula!”

Ele demorou a responder, mas depois disse: “Uma vírgula, uma pequena vírgula! Para que continuem a escrever a sua história! Mesmo quando o mundo desaba sobre eles!”

As suas palavras tocaram-me de tal forma que perdi toda a “coragem” que tinha a voltei para dentro. Com a sua “vírgula”. Pronto para continuar a escrever a minha história. Mas desta vez com um final diferente!