Depois de tudo, pensei que irias mudar. Mas eu sempre fui a mesma miúda ingénua, no que se toca ao amor.

Sempre pensei que quanto mais desse pela relação e por ti, o mesmo farias por mim; se te desse amor, carinho, se te abrace bem forte quando mais precisavas, se mostrasse a toda a gente o quanto te amo, que simplesmente irias retribuir na mesma quantidade, ou quem sabe, a dobrar.

Mas isso não aconteceu e no final foi o meu coração que saiu magoado, mais uma vez.

Acreditei em cada palavra que saía da tua boca, acreditei em cada promessa, em cada jura, Mas foi tudo uma ilusão, num abrir e fechar de olhos, sem pensares nas consequências dos teus actos, sem pensares em como eu ficaria magoada, no quanto me desiludias e no quanto me derrubavas, manhã após manhã, noite após noite, dia após dia.

Mas isso para ti era o menos, afinal, quantas vezes te avisei das consequência que, ironicamente, um dia mais tarde caíram todas sobre ti?
Quantas vezes te pedi, quase de joelhos, para parares?
Quantas vezes te pedi para pensares e depois sim, agires?
Quantas vezes te pedi para seres sincero comigo?
Quantas vezes te pedi, de lágrimas nos olhos, para mudares?

Podia continuar, e continuar com todas os outros pedidos que te fiz e que tu me juras-te que “desta vez, iria ser tudo diferente” mas não vale a pena, pois na realidade a culpa foi toda minha por ter acreditado em ti, nesses olhos brilhantes que pareciam ser sinceros, nesses lábios que eu não conseguia resistir e nessas mãos que me estremeciam quando tocavam no meu corpo, no meu rosto.

Não, não te preocupes pois eu não tenho intenções nenhumas de te culpar de nada e não escrevo para te fazer o “mau da fita” e eu a “boazinha”, apenas escrevo porque talvez por palavras escritas, vejas os sentimentos intensos que me causas-te e que, ainda me causas.

É incrível como depois de tudo, o meu coração ainda bate quando ouço o teu nome, quando te vejo, quando falam de ti discretamente, quando escuto as paredes do meu quarto a gritarem suavemente pelo teu nome, pela tua presença, pelo teu perfume e até por esse desodorizante em que o cheiro era tão intenso que tínhamos que abrir sempre a janela do quarto para o cheiro desaparecer daquela divisão.

Não, não me arrependo de nada.

Não me arrependo de ter dividido a cama contigo, de todos os dias te acordar com beijos e carinhos, de termos visto todos aqueles filmes e engordado a comer todas aquelas porcarias plásticas, de ter saído contigo para almoçar ou jantar fora, dos meses que passavam e da gente comemorar sempre a nossa data. Mas acredita, também não me arrependo de te ver partir, com as malas na mão e com a almofada entre elas. E sabes porque não me arrependo? Porque depois destes anos todos, ao teu lado, sei que fui a melhor pessoa que alguma vez poderia ter sido para alguém, a melhor namorada que alguma vez irás ter e a melhor amiga que irás tentar encontrar mas que nunca terás.

Perdoei cada promessa quebrada, perdoei cada desculpa dada, perdoei tudo o que havia para perdoar – mas, ironicamente quem meteu um ponto final nisto tudo, foste tu e somente tu. Confesso que de início doeu, tive semanas sem comer, sem querer sair da cama e que quando saía, cada passo que desse, era a tua cara que me vinha a mente, era a tua presença, era a tua boa disposição, era o teu mau feitio, era esse calor que me transmitias que me vinham à mente.

Mas agora consigo sorrir, consigo entender o porquê de eu ter sido tão ingénua, tão criança e tão adulta ao mesmo tempo, consigo entender o porquê de te perdoar dia após dia, consigo entender porque mudei imenso em relação a ti, porque te amava. Sim amava, de verdade, e sim, o verbo está no termo certo, no passado. 

Hoje consigo olhar para trás e apenas me consigo rir de toda esta situação.

Rir de ti, de nós e especialmente de mim. Pelo que corria atrás de ti, na esperança de ser tudo real por simplesmente te amar. Pelas figuras que fazia por simplesmente te amar. Pelo que sofria por simplesmente te amar. Pelo que passava por simplesmente te amar.

Meu bem, obrigada, obrigada pela lição que me deste. Ensinaste-me muito, e isso eu devo-te.
Ensinaste-me a não rastejar perante nada nem ninguém.
Ensinaste-me a dar-me valor.
Ensinaste-me que nada nem ninguém pode decidir por mim.
Ensinaste-me a ser mais fria, mas ao mesmo tempo mais adulta.
Ensinaste-me a viver sem o teu amor e a melhor ainda, a sobreviver.

Mas se algum dia pensares em voltar, a porta já está trancada e a chave já foi partida e dos pedacinhos dela consegui moldar um novo “eu”.
Um “eu” que não necessita de ti para ser feliz.
Um “eu” que conseguiu seguir a sua vida.
Um “eu” que se tornou uma mulher, e não é uma mulher qualquer mas uma mulher de garras, fria, decepcionada, mas que mais ninguém deita a baixo!

Imagem de capa: NDT, Shutterstock