Eu sou dessa gente que adora bicho. Desde criança, não me lembro de uma só fase da vida em que não houvesse por perto um animal de estimação.

Aqui em casa, contando os humanos, somos todos bichos que se estimam, se amam, se precisam e se sustentam.

Conheço gente que declara não suportar animal e acha um exagero o amor de certas pessoas a seus companheiros de pelos. Quando alguém assim me pergunta, com ar de superioridade, o que fazem os nossos cachorros, se brincam, se pulam, se latem, se mordem, se urinam na sala ou se estragam os pés das cadeiras, eu adoraria responder: “Eles recitam poesia, cozinham, lavam a louça, veem a novela das nove, tiram o lixo e cantam!”

E quando a pessoa fizesse uma cara de desagrado eu completaria: “Mas são péssimos cantores.”

Só não respondo assim porque isso levaria a nossa conversa a um lugar estranho em que eu não quero estar.

Então me contento com outra resposta mais simples e direta: eles fazem de nós pessoas melhores.

Não é exagero. Cuidar dos nossos cães refina a nossa humanidade e nos põe atentos, a postos, responsáveis. Faz de nós doadores e beneficiários de um amor bonito, imenso, divertido, trabalhador. E põe trabalho nisso.

Cá entre nós, pensando humanidade como sinónimo de compaixão, benevolência, sensibilidade, compreensão, caridade e essas coisas, os bichos são mais humanos do que muita gente que anda impávida sobre duas pernas por aí.

Acho aqui comigo que olhá-los de perto, observar-lhes o comportamento, os hábitos, o jeito e cuidar deles com calma, empenho e amor há de fazer de nós, no mínimo, gente mais correta. Há, sim.

Quem faz maldade aos bichinhos, quem os subjuga ou escraviza e quem os abandona à própria sorte habita o nível mais baixo da espécie humana. São criaturas rasteiras, tacanhas, medonhas. Animais sem escrúpulos, sem empatia, sem consciência. Tão estúpidos e irracionais quanto qualquer predador ou criminoso.

Penso tudo isso enquanto brinco com os meus bichinhos em casa.Eu já cansado, querendo fazer outra coisa, e eles animadíssimos, dispostos a brincar para sempre.

Tenho então a impressão ligeira de que meus amados cachorros são pessoas muito melhores do que eu.

Por: André J. Gomes

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