Cresci rodeada de pessoas que ganharam a irritante mania de esperar, ou exigir, sempre a melhor versão de mim. Desde as melhores notas da turma à melhor escolha de amizades, tudo era passível de ser julgado caso eu tivesse o mais pequeno momento de fraqueza.

Todas as lágrimas, justificadas ou não, sempre foram obviamente consideradas uma forma de dar nas vistas e criar uma vítima onde existia uma suposta sortuda, ao invés de se ponderar a possibilidade de talvez, só talvez, algumas dessas lágrimas serem consequência de uma tristeza genuína.

A razão, essa, pertencia-lhes sempre, independentemente do assunto.

E depois apareceste tu. Tu que não julgaste nenhum dos meus pensamentos menos felizes e tão pouco as minhas acções duvidosas. Tu que soubeste ouvir-me durante horas naquela tarde de sábado quando todas as outras pessoas estavam demasiado ocupadas a opinar sobre uma vida que não era delas. Tu que não me consideraste demasiado nova, demasiado ingénua, demasiado eu. Tu que deste valor a cada pedaço de mim, não só à maravilhosa e colorida versão de mim, mas também àquela rapariga meia perdida e desnorteada. Tudo isto porque conseguiste ver em mim aquilo que em ti faltava da mesma forma que eu vi em ti aquilo que sempre me fizeram achar loucura completa procurar.

Quando eu pensava que a maior felicidade que alguma vez iria sentir seria a excitação pela aproximação daquelas férias tão esperadas num qualquer país exótico, o orgulho por aqueles 20 valores num exame em que a média costuma ser tudo menos brilhante ou até mesmo o interesse que os meus pais demonstram ao gabarem-se da filha perfeita que criaram, descobri que a verdadeira felicidade está nas pequenas coisas. Está nas nossas noites acordados até às 4 da manhã a ver filmes cheios de clichés amorosos, está nas nossas tardes de inverno fechados no teu quarto a ouvir música e completamente esquecidos do mundo lá fora e perdidos um no outro, está nas nossas manhãs a acordar cedo somente para conseguirmos ver o nascer do sol na varanda do meu quarto enrolados num só lençol.

Se nada dura para sempre, tenho de dizer-te que estou a adorar este nosso pequeno infinito.

Imagem de capa:  dotshock, Shutterstock