A frase é forte: não passamos por nada que não possamos suportar. Meu Avô me dizia isso como quem diz “dois mais dois são quatro”. Eu era novinha – quando ele se foi, tinha só 19 anos – e ficava pensando nessa frase e acabava não entendendo. Com a bagagem que tenho hoje aos 33, me sinto preparada para propagar esse ensinamento.

Meu Avô era paraibano, passou fome em Campina Grande, estudou sob luz de poste na rua que nem asfalto tinha. Ele fez faculdade de Engenharia Agrônoma, estudou mais e fez concurso. Tornou-se engenheiro do Ministério da Agricultura do Brasil.

Sempre contava histórias de que por não aceitar propina e não poder ser demitido por isso, viviam mudando ele de Estado. Assim ele foi parar em Minas e conheceu a minha Avó.

Se tem um cara em quem me espelho na vida, é ele.

Quando se aposentou, fez Direito. Comprou briga com a cidade do interior de Minas, onde nasci. Ele atendia pessoas de graça, como advogado e assim, as pessoas deixaram de se matar para pagar charlatões.

Ele tinha um bom salário como aposentado pelo Ministério. Fez Direito só pra ajudar quem não podia pagar. Foi até ameaçado por alguns juristas da Cidade. Afinal, se antes o povo deixava de comer para pagar um advogado, agora, só precisava marcar horário com meu Avô.

Não cheguei a estudar sobre isso, pois estou me formando em Administração e fazendo Psicologia. Mas acho que nenhuma lei o proibia de fazer isso. Em todas as situações difíceis da minha infância e da minha adolescência que nem exigiam essa frase, ele dizia: “não passamos por nada que não possamos suportar”.

Já enfrentei e venci muitas tempestades na vida. Imagine um pássaro encolhido, tomando uma chuva fria. Era assim que me sentia a cada tempestade que a vida me impunha. Quando mais precisei do meu Avô por perto pra dizer isso, ele já não estava mais.

Só que o legado dele ficou. A história dele também. E a frase, dita com toda serenidade do mundo, se repetia em minha mente. Então, em meio aos prantos, eu a repetia: “não passamos por nada que não possamos suportar” e via o quanto ela é forte.

Assim, descobria sempre que tinha mais força que imaginava. Pois já enfrentamos o que conseguimos aguentar, tem coisas que vem sobre a nossa vida pra nos mostrar mesmo o quanto somos fortes. Há quem culpe a Deus por coisas boas e ao diabo por coisas ruins que nos ocorrem pelo caminho.

“(…) gente que nem eu, que planta o bem e é algo natural, seria a mais abonada das pessoas, em todos os sentidos.”

Julgo que ambos sejam muito ocupados pra ficar nos colocando coisas boas ou ruins pela jornada. Atribuo ambas às minhas escolhas e atitudes. Fica mais justo assim. Afinal, se fosse verdade essa coisa de Deus ser o responsável por tudo de bom que nos acontece, gente que nem eu, que planta o bem e é algo natural, seria a mais abonada das pessoas, em todos os sentidos. E gente corrupta, sem caráter, seria seres que clamariam pela morte, de tão ruim que suas vidas seriam.

Nossas escolhas nos trazem o que temos. Seja bom ou ruim. Nossas atitudes nos abraçam com as consequências. E mesmo assim, não passamos por nada que não possamos suportar. A vida é difícil mesmo, mas é uma senhora justa.

Vale chorar, vale se lamentar por um tempo, vale pensar se é isso mesmo… reflexões são parte da boa colheita das tempestades. Mas ao se lembrar que não passamos por nada que não possamos suportar, saiba contemplar a força que você tem.

Se é uma situação que se repete, tente ver o que ainda não aprendeu com as outras. Acredito que cada problema traz o seu ensinamento. E se não aprendemos, ele vai se repetir.

Por isso às vezes, as pessoas caem na mesma situação diversas vezes.

Ah, reclamar não adianta. Só atrasa o aprendizado. O caminho para sair disso é ver o que tem a aprender, saber o quanto é forte, chorar o que for preciso, planejar como resolver isso e se levantar! Ponha-se de pé e siga.
Nunca se esqueça disso: não passamos por nada que não possamos suportar.

Por: Gabi Barboza