Moço, eu subestimei a capacidade de superação da sua ex. Eu a vi, muitas vezes, chorando em posição fetal de saudades e dor. Era um choro tão sofrido, tão visceral, aquilo me cortava o coração.

O luto dela pela ruptura de vocês foi muito complexo, envolveu muitos sentimentos. Ela teve que lidar com a dor da sua traição, com o seu abandono, com os sonhos frustrados que vocês traçaram para o futuro.

Ela sentia muita frustração pelo o que acabou e pelo o que não foi possível viver contigo.

Nesse panorama, a autoestima dela foi soterrada, dando lugar a uma percepção completamente distorcida de si mesma. Ela hibernou, perdeu o viço, o olhar ficou embaçado, e uma depressão a abraçou. Ela o amava com toda tanta verdade, você lembra, não é?

Algum tempo depois, ela começou a reagir, como quem reage a um coma. Passou a se olhar no espelho, como quem procurava aquele brilho tão peculiar dos olhos.

Ela parou de procurar por notícias suas nas redes sociais, algo que fazia com frequência e que lhe causava muita dor.

Aos poucos, ela reagiu, mudou o corte e a cor dos cabelos, substituiu algumas peças do seu guarda-roupa e gostou daquela nova mulher que ganhava forma diante do espelho. Voltou a se exercitar, escolheu a dança de salão.

Ah, você se lembra do quanto ela amava dançar, mas parou por conta do seu ciúme, não é? Na dança, ela entrou em contato com a plenitude, a leveza, a feminilidade e o poder que ela sempre possuiu, mas não tinha consciência.

Numa noite, rodopiando com um homem de sorriso largo, ela experimentou sensações que fizeram sua alma sorrir e a pele arrepiar. Nascia ali um querer recíproco e uma conexão profunda. Sim, eles se apaixonaram, não foi nada forçado, nada programado.

Eu perguntei o que ela faria se você surgisse propondo voltar.

Ela respondeu: “ele não teria a menor chance com essa mulher que eu me tornei. Não se trata de rancor, nem vingança, foi o tempo”.

Por: Ivonete Rosa