A simplicidade de um olhar tem o poder de despertar um feitiço que nos prende e nos atraí como íman. Cada gesto torna-se o nosso movimento favorito, aquele sorriso é a nossa paisagem de eleição. Aqueles braços abertos são o nosso refúgio, a nossa casa, a minha casa, era aquilo que desejava de cada vez que me sentia triste e vulnerável. A tal voz sexy que fazia todo o meu corpo entrar numa efusão crescente de prazer deixou de ecoar no meu ouvido, não me fazia estremecer de desejo, congelou toda a sua sedução e arrefeceu todo o meu calor.

Ambos caminhamos para sentidos diferentes, tu mais rápido que a própria velocidade da luz, muitas foram as vezes que tentei caminhar para junto de ti, porém no teu caminho tinhas construído armadilhas e nunca te consegui alcançar. Nessas inúmeras tentativas de chegar perto do epicentro do meu amor caí, levantei-me e voltei a cair, chorei, pensei em desistir, mas a esperança permanecia remanescente dentro do meu peito dilacerado que implorava por mais uma tentativa.

Magoei-te, sei isso melhor que ninguém, mas sabes?

Pedi-te perdão todos os dias nestes últimos quatro meses, não me arrependo de ter lutado por ti, arrependo-me de não ter valorizado aquilo que sou, tu sabes que eu não sou assim, não tenho paciência para correr atrás de quem não me presta atenção, como muitas vezes disseste: sou um garoto mimado que tem de ter tudo aquilo que quer, nem que para isso tenha de mover céu e terra, mas deixa-me que te diga, o que tu chamas de mimado eu chamo de lutador, assim como hoje chamo-te fraca em contradição ao que outrora te chamava, persistente.

Certamente um dia iremo-nos encontrar na rua e os nossos olhares irão cruzar-se, não nego que os meus olhos irão brilhar quando te observarem, mas não terei coragem de te dizer um olá ou fazer um simples aceno de cabeça. Duas datas importantes para mim que tu ignoras-te por completo, isso destruiu toda a esperança que tinha em relação a nós, despedaçou o coração que um dia tinhas ajudado a reconstruir. Lembro-me como juntaste todas as peças com a promessa do para sempre.

Agora as peças estão desfeitas e perdidas, e graças a ti não serei capaz de amar tão cedo.

Nesse dia quando nos encontrar-mos estarás como sempre estás, a perfeição em pessoa, com esse teu estilo todo certinho, eu serei o mesmo de sempre, cabelo desalinhado, barba por fazer e com aquele sorriso que um dia disseste ser o mais bonito do mundo. Talvez aí entendas que cometeste o maior erro ao deixar-me ser livre a caminhar para o outro lado do oceano, talvez leves uma bofetada de ar fresco na cara e te arrependas de todas as vezes que deixaste o meu amo-te sem resposta, mas quero que saibas que aí será tarde de mais porque terei as feridas cicatrizadas, mas não penses que te vou esquecer, vou manter vivo tudo aquilo que vivemos sabes porquê? Para que os delírios de uma vida a teu lado sejam transportados para a realidade.

Um dia fui para ti a salvação, devolvi a vida ao teu olhar perdido, mas hoje serei aquele do qual não ouvirás mais a palavra:

Amo-te!

Imagem de capa: Iakov Filimonov, Shutterstock