Imagem de capa: Aba, Shutterstock

Tudo se resume a uma palavra: saudade. Esquecer tornou-se impossível. É triste, o que me rodeia lembra-me constantemente. Podes não me ouvir, nem ler o que escrevo, mas já não sei em quem acredito por isso vou continuar o que tenho para te dizer. Eu recordo-me claramente… todos os olhares, todos os gestos, todas as palavras, todos os passeios…

O dia em que te foste embora foi o dia em que soube que nada seria igual. Um completo desmoronamento começou, uma extasiante luta pelo que penso serem os melhores valores para uma sociedade, para a nossa sociedade. Consome-me, deixa-me sem palavras, sem vontades, só por saber… eu não estava perto de ti para te dar um abraço de despedida.

“Quem me dera que voltasses por mais uns minutos(…)”

Os meus desejos são agora impossíveis. Quero algo que não posso ter. Quem me dera que voltasses por mais uns minutos para te dizer o que tenho cá dentro guardado para uma ocasião terminal, a ocasião que já passou.

Levantei-me mas tu não acordaste, pergunto-me constantemente o porquê. Luto contra esta sensação, por vezes tornasse insuportável. O justo à injustiça se uniu e, com todo o seu poder, não te deixou viver. E, agora que partiste, nada mais posso fazer a não ser escrever o que outrora pretendia dizer-te.

“Não sei o que sinto, nem o sítio onde te encontras mas se estiveres a ler isto é porque, certamente, sabem o quanto é importante para mim que o leias.

“Lembro-me dos dias de festa, dizias sempre que iriam ser uma animação.”

Gostava de ter acreditado nas tuas palavras quando me disseste que tudo iria ficar bem, de não me ter enrolado nestas sílabas que são esquematicamente colocadas para me conseguirem derrubar. Juro que tentei acreditar, mas não está ao meu alcance. Lembro-me dos dias de festa, dizias sempre que iriam ser uma animação.

Obrigada!

Um agradecimento é demasiado pequeno para expressar o que senti quando a tua última palavra, antes da doença te impedir, foi nada mais do que o meu nome.

“(…) fortes não são aqueles que não choram mas sim aqueles que expressam o que sentem.”

Uma coisa é certa, eu ainda não estava pronta para esta partida, que não é contabilizada por quilómetros ou dias. O orgulho que tinha em ti foi tal que não resisti à tentação, lágrimas surgiram ao observar a campa da pessoa que tanto admirava ser coberta por terra. E, ao contrário do que é estabelecido, fortes não são aqueles que não choram mas sim aqueles que expressam o que sentem. Ias-te sempre embora mais cedo, eu percebo visto que, na maior parte das vezes, “reuniões familiares” acabavam em intensas discussões sem sentido. Os últimos anos têm sido devastadores, na verdade todos os dias são uma nova experiência e não saberei como me vou sentir amanhã.

Sempre foi tudo relacionado contigo, e hoje? Hoje é tudo sobre mim, para mim e, na maior parte das vezes, contra mim. Vou fazer o que tenho de fazer para continuar a tentar não pensar em ir ter contigo, não pensar em pôr fim a todas as batalhas com que me defronto todos os dias. Já esgotei todas as ideias do que fazer, do que pensar… a minha criatividade ficou repleta de sentimentos negativos e, muitas das vezes, impossíveis de acabar.

“Talvez seja demasiado tarde mas, uma coisa é certa, hoje não será o dia.”

No fundo acho que só precisava que me desses mais algum tempo e que, apesar de seres o único, acreditasses em mim por mais alguns anos, nem que fosse para impedir que esta solidão me absorvesse desta maneira, me deixasse sozinha numa enorme percentagem do meu dia. Talvez seja demasiado tarde mas, uma coisa é certa, hoje não será o dia.

Amanhã será uma nova experiência. Sem ti por perto, mas contigo sempre no meu coração.”