Estou ficando, velha, louca e surda. E se estiver na mesma jornada, um brinde! Se este texto chegou até você (do nada) — um brinde!

Poderia escrever sobre tantas coisas, refletindo sobre “Velha e louca” da Mallu Magalhães, mas começo escrevendo sobre essas tantas cicatrizes na alma, sobre essas marcas que um dia doeram tanto e hoje são só sinais, de quem eu fui um dia e que fazem parte de quem estou me tornando.

Aos quase trinta anos de idade, eu não gostava sequer de declarar minha idade, era uma espécie de fobia. Hoje, eu já considero o ano a mais quando está próximo o meu aniversário.

Eu ficava olhando no espelho procurando sinais nas áreas dos olhos, ficava procurando manchas, marcas pela pele, a fim de um “retoque”, de uma repaginada como se costuma dizer.

HOJE, OLHO E GOSTO DO QUE VEJO, GOSTO DOS OLHOS QUE ME VEEM, ACEITO O TEMPO, PORQUE, ENTRE PRÓS E CONTRAS, SÃO MUITOS OS PRÓS. APROXIMAR-SE DE SI É VALIOSO.

Tinha uma tendência a ver as coisas por uma ótica muito imediatista e pessimista. Hoje, vejo as coisas com mais leveza, entendo que o futuro é o hoje, não é o amanhã, não é daqui a cinco, dez anos, o futuro é o que vivo e escolho nesse segundo.

Estou ficando velha… consigo falar num tom acima: ESTOU FICANDO VELHA! Louca porque é realmente algo “anormal” encantar-se tanto com algo chamado vida quando se está em meio ao caos.

Perdi um pouco de audição também, por conta do hábito dos fones de ouvido, o que me faz rir dos absurdos que ouço (muito mais coerentes do que a realidade). A gente aprende muitas coisas depois de um número considerável de tombos.

Não é texto sobre “nossa, que perfeito que é ficar mais velha”, na verdade, tem uma série de coisas que você precisa vencer em si, é preciso derrubar muitos castelos de ilusão alicerçados na tolice.

Se você tem vinte e poucos anos, é um texto para que não se assuste com a hora em que os sinais começam a surgir.

Há muito mais coisas legais que você vai ver com novos olhos, ouvir de um jeito novo, tem muita razão para se perder na busca por si.

Já escrevi muitas coisas, que soam até interessantes, do ponto de vista da escrita, mas que não se encaixam mais com quem sou hoje, mas gosto dessa realidade, de ter essa percepção, porque é assim, ficar velha e louca também consiste em perceber como algumas ideias de outrora não cabem mais em que se é.

A minha percepção sobre trabalho, sobre aprendizado, sobre o campo das relações humanas, tem mudado. Alguns dizem que é melhor metade ou um pouco, do que nada, mas é exatamente essa a loucura que me cabe, querer a inteireza, querer o que faz sentido, o que tem ritmo, cor, o que torna os dias mais incríveis.

Estou ficando, velha, louca e surda.

E se estiver na mesma jornada, um brinde! Se este texto chegou até você (do nada) — um brinde!

Que ninguém lhe tire o riso frouxo com nenhum conselho e que não perca o dom de ver o lado bom da vida. A gente vai aprendendo a repensar, a se refazer e a se escutar.

Por: Daiana Barasa

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