Se eu quisesse, meu amor, eu podia ter muitos homens, mais do que tu podes imaginar. Mais de cem. Ou de mil, sei lá.

Eu podia ter homens que possuem Ferraris e homens que nem bicicletas partidas têm. Podia ter rapazes que sabem trocar chuveiros e rapazes que não sabem como trocar pneus furados. Podia ter homens com barba de lenhador e homens que, como o teu avô, barbeiam-se todos os dias.

Podia ter rapazes que tomam whey protein e rapazes que, se pudessem, até na água colocariam um pouco de álcool. Eu podia.

Se eu quisesse, eu podia ter o vizinho do quinto andar; aquele que está sempre a arranjar desculpas para apanhar o elevador comigo. Ou o rapaz que, quando me encontra na garagem, arranja sempre uma maneira de rapidamente passar do “Olá” para o “Vamos tomar um café um dia destes?“. Eu podia.

Eu podia ter o homem mais bonito do meu trabalho; aquele que faz as estagiárias babarem, que faz os gays usarem o termo “magia” e os outros homens inventarem defeitos onde, obviamente, eles não existem. Eu podia.

De albinos a negrões, de baixinhos a altões, de magrinhos a gordões, de carequinhas a cabeludões, eu poderia ter todos se quisesse, se dissesse apenas um rápido “sim”. Mas, se queres mesmo saber, eu escolhi ter só um: tu.

Eu escolhi dispensar todos os convites que recebo para esperar, ansiosamente, pelos teus, para qualquer lugar.

Aliás, por falar nisso, já faz um bom tempo que tu não me levas para comer naquele restaurante delicioso. Que tal no próximo sábado? Que dizes?

Eu escolhi dispensar os tantos queixos quadrados – e que facilmente poderiam fazer furor em qualquer anúncio de televisão – para ficar só com o teu, que para sempre carregará as cicatrizes do dia horrível em que a tua mãe me ligou para dizer que tu tinhas batido com o carro. Quase morri do coração, confesso. Porque te amo.

Eu escolhi dispensar mãos cujos dedos são retos e possuem unhas cortadas com precisão.

E sabes porquê? Porque as minhas mãos, quando estão entre os teus dedos tortos e com unhas roídas, não querem outro lugar para estar. E, quando não estão lá, morrem de saudades. Não sabias que os dedos também sentem saudades? Ah, e apesar de eu não ser mais uma menina e de já ter atirado as minhas bonecas fora, adoro quando tu me dás a mão para atravessar a rua.

Eu escolhi dispensar a possibilidade de experimentar o gosto de outras bocas para ficar só com o delicioso sabor da tua, sempre com uma pitada de Halls Preto e um quê de paixão adolescente.

Paixão que, até hoje, ainda nos faz bater os dentes nas vezes em que parecemos decididos a engolir-nos num só beijo, numa só lambida.

Não vou mentir: existem muitos homens atrás de mim, mas, sinceramente e sem exageros poéticos, tu estás muito à frente de todos eles, no topo do pódio do meu coração. E nenhum deles será capaz de ocupar o nobre lugar do meu corpo que já é teu, somente teu.

Por: Ricardo Coiro