Foi naquele sábado que senti o meu vazio de ti.

Pela primeira vez olhei-te sem te ver.

Os meus joelhos não tremeram. A minha voz não fugiu nem recuou. As minhas mãos não te procuraram. E o teu cheiro não era mais teu.

Senti que desisti de ti e de nós.

Naquele sábado fui menina, senhora, princesa e rainha de mim mesma e do meu mundo. Todos o viram. Até tu.

Até tu que buscavas refúgio em outras pessoas. Até tu me viste. Pela primeira vez me viste com os olhos cheios de orgulho-bom.

Viste-me enquanto eu te olhava a ficar sem fôlego, a ser puxado pela emoção.

Deixar de ver e passar a olhar, permite isso mesmo: que se consiga respirar, que se consiga falar sem o coração descompassado pleno de vontade de estar nos braços do outro.

Terminaram os nossos anos de encantos, desencantos, beijos escondidos, mentiras, muros e vergonha.

Eu renasci. Libertei-me de ti e de minha esperança da bolha de sabão de relação que tínhamos.

Recuso-me a ser efémera. Sou feita de carne, ossos, mar, um turbilhão de emoções, caracóis no cabelo e flores no peito.

Parece ter chegado a hora de enfrentar o inevitável. Eu acabei-te, recomecei-me, vazia de ti e farta de mim.

Falei sobre nós a todos os que ouviram, enquanto procuravas uma das tuas máscaras para te esconder. Foi assim que te vi sem te olhar.

E estou tão melhor assim; desapegada e despreocupada.

Escolhi-te, lá longe, no tempo. Tão longe que não me lembro quando nem onde foi. Não é isso o que interessa. Importa que não te escolho nem quero mais.

Quero quem me abrace sem que o peça. Que me ampare o choro e seque as lágrimas. Que me (cor)responda. Que me exiba como se fosse um troféu conquistado. Que me aceite como sou, sem medo, pudor nem vergonha. Não és tu.

Desisti de ti e de nós, mas não de mim.

Tenho o relógio a contar, sem que os ponteiros parem e fiz-me prisioneira desta minha fé de ser feliz.

Foi naquele sábado que não te vi. A ti devo o ter encontrado a minha pessoa certa: que está comigo em qualquer situação, independentemente da circunstância. O teu egoísmo ensinou-me que não preciso mais procurar ninguém; devo ser eu a minha pessoa.

Se bater a saudade de ti, eu ligo-me a ti pelas palavras, como tantas vezes o fiz.

Por enquanto não. Não deixei de amar, passei antes a amar-me. Agora é tempo de mim.