Olha só para ti, para nós. Em tempos já fomos tão intensamente apaixonados, completamente loucos e cegos um pelo outro. Sem dúvida alguma que me podiam justamente acusar (e a ti também) de não ver mais nada à frente, de só me preocupar com a minha relação, de pôr tantas pessoas e situações de lado só para não haver o mais pequeno risco de estragar o que tínhamos.

O meu compromisso não mudou, nem tão pouco o meu sentimento.

O teu compromisso, por outro lado, foi de 80 a 8, mas pouco a pouco, sem grande alarido, e o teu sentimento… Bem, esse não sei dizer se morreu, se está adormecido, se fugiu, mas algo definitivamente aconteceu. Diz-me, foram as horas do teu dia que reduziram? Já não tens 24 horas como dantes?

Não ignoro os esforços que claramente fazes, mas será que não poderias mesmo fazer mais e mais vezes? É nesta pergunta, e numas outras quantas, que me perco constantemente. Será que não existe mais? Será que eu não mereço mais? Já passámos tantas coisas juntos, boas e más, que parece ridículo deitar tudo para o lixo, todos os planos e todas as vivências, quando talvez os bons momentos se encontrem precisamente ao virar da próxima esquina, mas quantas mais esquinas tenho de visitar até que tudo fique bem de novo?

Estou exausta, completamente exausta.

Eu sempre soube que relações à distância não eram fáceis, mas, caramba, tinhas de contribuir para essa dificuldade? Se estarmos só os dois e poder tocar-te em todas as partes do teu corpo é tão raro, por que razão não optas mais frequentemente por uma noite inteira de amor comigo ao invés de um jogo de futebol com os teus amigos durante duas ou três horas?

Já lá vai o tempo em que tu dizias que me amavas 50 vezes por dia e não tinhas medo de o demonstrar à frente de fosse quem fosse, o tempo em que tu, depois de um dia longo e complicado, me querias desesperadamente ver, porque eu era a única coisa simples na tua vida, o tempo em que me olhavas daquela forma, tu sabes do que estou a falar, o tempo em que eu era suficiente para ti.

Tenho saudades dos mimos, dos pequenos gestos, da delicadeza com que me tratavas, como se eu fosse uma boneca de porcelana, tão frágil que tu tinhas medo de me ferir e ficar sem mim. Tenho saudades do tempo em que, em pleno inverno, acordavas de madrugada, apanhavas um comboio que demorava séculos a chegar e fazias uma caminhada de mais de meia hora à chuva só para dormires agarrado a mim umas horas. Agora tudo isto são apenas memórias que me atormentam, porque, no fundo, sei que, apesar de não ser impossível, dificilmente voltarão a ser realidade.

Amo-te, sabias? Mas tenho um pressentimento de que um dia destes o meu amor não vai chegar.

Digam o que disserem, qualquer mulher gosta de se sentir protegida, desejada, amada, e eu não me sinto nada disso, nem um bocadinho. Já me senti no passado, é verdade, mas o futuro não se constrói no passado, é no presente. Então, diz-me, achas-me a super mulher com força infindável? Ou simplesmente não te importas se eu fico ou parto para longe de ti e perto de outra pessoa? Explica-me, por favor, porque acho que não consigo segurar a corda pelos dois muito mais tempo, e, se a largar, não há nada que a conserte, nem a melhor cola do mundo.