Está escrito. O amor há de ser desafiado, provocado, testado, e os amantes só seguirão unidos se vencerem juntos as pelejas que aparecerem pelo caminho.

Novos e velhos amores estão fadados a passar por isso. Um dia sem mais você se pega sentindo amor por alguém que, por acaso, já tem outro alguém. Um namoro, um noivado, um casamento. Não importa. Você está num impasse.

E pensando consigo você se pergunta: “invisto no que eu sinto ou esqueço e vou embora?”.

A decisão é sua. E seja ela qual for, vai doer. Nesse caso, ficar e partir dão trabalhos diferentes mas causam a mesma dor.

Ao mesmo tempo, do lado de lá, pode ser que a pessoa por quem você foi sentir amor também esteja em situação delicada. Pode ser que o namoro, o noivado ou casamento dela também já não esteja lá essas coisas. E aquele gesto dela em relação a você, aquela frase que você interpretou como um sinal sutil de reciprocidade na sua direção, aquilo pode ser um pedido de socorro.

Alguém agora há de vociferar que eu estou a confundir paixão e amor. Vai dizer que estou equivocado, que a paixão é a tempestade e o amor é a calmaria. Que seja. Eu respeito mas discordo. Para mim, a paixão é só uma das fases do amor. A primeira. O fogo das primeiras vezes, a ansiedade, os rompantes de encantamento ou repulsa inicial, tudo isso acontece nos primeiros instantes de um sentimento que pode ou não se transformar em um amor longevo, sereno e resistente como as velhas árvores. Mas é tudo amor.

Desde sempre é amor o que a gente sente quando quer bem a pessoa que nos faz o coração bater diferente.

Quem conhece uma outra alma e pensa nela com ternura no silêncio de sua solidão, e sorri lembrando como ela sorri bonito, apertando os olhos, e se incomoda com o que a incomoda, e sofre com o que a faz sofrer, já está sentindo amor. Um amor embrião, incipiente, apaixonado. Mas é amor.

Pois muito bem. Por qualquer motivo você começa a amar alguém que já caminha pela vida em outra companhia. É chato mas acontece. O amor adora uma prova difícil. Do seu lado, seus valores, sua personalidade, seu jeito de ser e de estar na vida vão ajudar você a decidir se vai ou se fica. Do lado de lá, se houver reciprocidade, a pessoa que tocou seu coração vai fazer o mesmo.

A você, cabe apenas não sentir culpa por seus sentimentos e, sobretudo, aceitar e respeitar a decisão da pessoa amada. Resolva ela ficar ao seu lado ou se afastar para sempre, resta a você agradecer.

De qualquer sorte, ela fez você sentir amor e merece a sua gratidão.

É assim que é. O amor adora uma prova difícil. E afinal, qual é a graça de um sentimento que nunca foi posto à prova? Quem se ama mesmo, quem se ama de verdade, resiste às dificuldades no início ou no meio do caminho. E se aceita ou não as possibilidades novas que a vida apresenta, só o faz por amor. Aquele amor que quando não tem lugar aqui, está sempre vindo ali… ali… ali…

Imagem de capa: Anastasiia Fedorova, Shutterstock