“Há uma santidade nas lágrimas. Não são marca de fraqueza, mas de força. São mensageiras da dor incontrolável e de amor indescritível.” (Washington Irving)

Daqui, ando com um choro pouco religioso. Meu choro é calado, mora apertado no peito. Tem momentos que eu o sinto revirando-se desajeitado, procurando um lugar mais confortável para ficar. Porém não escorre. É choro acrobata, conhece a complexidade da vida, contorce-se, mas não fica onde deveria estar e não encontra o caminho do rio onde as lágrimas vão de encontro ao sol.

“Ele é sensível, é poeta que rima dentro de mim.”

Somos amigos antigos e ele se lembra de cada dia em que a vida o fez pulsar e aumentar seu volume. Ele é sensível, é poeta que rima dentro de mim.

Às vezes luto para que ele se vá, encontre as portas do olhar que lhe darão a liberdade, mas meu choro é confuso, teme o abismo da liberdade que a expressão do sentimento proporciona.

Ah, choro carente, não percebe que sua gota é semente, que seu sal é força e que sua queda pode ser voo?

Mas hei de me programar e guia de um choro perdido serei. E chorarei. Por três dias e três noites em tempestade e calmaria. Até que a pressão termine, até que o coração se acalme, até que a vida se lembre que ser sensível para fora também é uma opção.

Um dia desses, ainda viro mar.