“Não te entendo.”, dissera ela num fio de voz.

Olhavam-se como dois estranhos, esquecendo as memórias em comum e pensando nas dores actuais.

Ele sorria com charme fugindo dos olhos dela, com a pressa dos que fogem do medo. Ela sorria com mágoa e raiva de quem não sabe sentir.

Dois estranhos que se gostavam, pensava ela.

Talvez ainda haja tempo para eles, para se gostarem e mostrarem que se gostam. Talvez ainda haja tempo para estarem no mesmo espaço com os olhos um no outro, sentindo o coração acelerar e saberem que estão no lugar certo. Talvez ainda haja tempo para se conhecerem sem entraves ou distâncias impostas no vazio. Talvez ainda haja tempo para sorrirem num segundo, em sintonia, na mesma onda.

Talvez ainda haja tempo.

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