À medida que amadurecemos, fazemos escolhas mais sensatas. Enrijecemos as nossas ideologias e procuramos quem, muitas vezes, reforça as nossas opiniões, e não nos acrescenta divergência ou confronto. Até certo ponto, isso pode ser uma mera compatibilidade de interesses, mas também pode ser pura covardia. Nem sempre o que julgamos como a pessoa certa para nós, na verdade, é.

Estamos em constante mudança, travando batalhas internas para nos reconhecermos todos os dias. Às vezes, o espelho não reflete o que vemos, ficamos desesperados e buscamos mais de nós mesmos além do que a vista alcança. Talvez tu não percebas isso nas pessoas ao teu redor porque, assim como tu, cada uma delas tenta camuflar as suas dores com gargalhas histéricas e suaves abraços prolongados.

Se, numa relação, um dos dois pede um tempo, o outro deve respeitar.

Se ambos não estiverem dispostos a solucionar os conflitos juntos de nada vale a tentativa, mesmo que persistente, de um só. Muitas vezes, uma breve pausa numa história funciona como um divisor de águas em que tu percebes do que sentes falta, do que te preocupavas à toa, do que construíam juntos. Por exemplo, quando é saudade e quando é costume, quando é drama e quando é dor, quando é apego e quando é carinho.

Se os dois não estiverem na mesma página, não tem relação. Se tu não respeitas o tempo pedido (mesmo que não vejas motivos para que ele aconteça), tu estás a ser um obstáculo para que possam evoluir, porque por mais que a tua boa vontade seja insistir, conversar, tentar resolver as coisas, enquanto um não quiser, não estiver disposto e não pensar da mesma forma, não vão chegar a um acerto de contas. Às vezes, nós temos que abrir mão do que achamos certo para nós pelo que achamos adequado para os dois, entendes? Isso é normal.

Amor é complacente, mas sobretudo, empático.

Se limitamos a nossa capacidade de compreensão sobre as necessidades do outro, tornamo-nos egoístas, e até por vezes orgulhosos. Fechamos os nossos olhos para o infinito que nos preenche por dentro, quando na verdade deveríamos esforça-nos para enxergar os valores que caminham lado a lado com as nossas perspectivas, planos e ambições de um futuro a dois.

Diz-me um casal que, apenas por se gostar demais, permaneceu em harmonia por bastante tempo? Tudo dá certo por um período, mas para uma vida, uma história, e principalmente “para sempre”, o objetivo muda. Se não pararmos para pensarmos para onde estamos a ir, não apreciaremos a caminhada. Qualquer lugar serve para quem não sabe o que quer.

A pessoa certa é, nada mais nada menos, do que aquela que está disposta a fazer as coisas funcionarem. Não tem estereótipo de príncipe encantado, nem princesa, e talvez nem sequer consiga seguir as normas de etiqueta à mesa. É aquela pessoa que vai falar algumas coisas tolas que te tirem do sério uma vez ou outra, assim como algumas amenidades que te façam sentir bem. É aquela que vai errar, assim como tu, e nem sempre encarar o seu erro de frente, mas vai importar-se o suficiente para tentar consertá-lo. Aliás, é aquela pessoa que se importa contigo, com as tuas vontades, com os teus planos e, principalmente, se importa em estar incluído neles, na tua vida.

A pessoa certa não tem nada de especial, sabias?

Se tu buscas um sinal divino da sua presença, vais deixá-la passar despercebida, até porque ela também precisa que tu a queiras a ponto de compreendê-la nos seus desacertos e afetos. Portanto, se queres um bom conselho, não exijas para ti uma perfeição irredutível. Não é o quanto conquistamos que determina a nossa força, mas o quanto conseguimos levantar-nos após o fracasso.

Somos cacos que encaixam as suas falhas para compor o acerto de um coração inteiro. Que o tempo dado seja por respeito, e não por medo. Que toda a falta seja de saudade, e não comodismo. Que todo o recomeço seja por amor, e não carência. Que todo o ponto final seja vírgula numa história que transforma os conflitos em reticências, e não no fim.

Por: Samantha Silvany

Imagem de capa: Viacheslav Boiko, Shutterstock