Sinto falta da época em que nos conhecemos, onde nem eu, nem tu, sabíamos que um relacionamento podia acabar. Começamos inocentes, com um sentimento puro e verdadeiro. Eu só tinha olhos para ti, o meu coração batia mais forte antes de nos encontrarmos.

Nunca fomos perfeitos um para o outro, tínhamos muitas diferenças, mas conseguíamos encaixar-nos exatamente do nosso jeito. Conseguíamos resolver os problemas, a cumplicidade era um dos nossos pontos mais fortes. Eu sabia que podia contar contigo, e tu também confiavas em mim para qualquer coisa. Nós completávamo-nos, desde o movimento das línguas durante o beijo até à conchinha antes de dormirmos.

Eu sinto falta do frio na barriga que surgia quando tu estavas prestes a chegar.

A ansiedade tomava conta do meu corpo. Tu eras o meu maior foco. Não importa o que eu estivesse a fazer, o meu pensamento era cheio de lembranças nossas. Nunca existiu um dia, sequer, que tu não tenhas invadido a minha mente a ponto de me fazer perder a noção da hora e lugar. Tu eras um vício, algo que me dominava dos pés à cabeça. E tu sabes disso.

Eu sinto falta de compartilhar contigo as minhas vitórias e derrotas. De te ligar, no meio da noite, só para ouvir a tua voz de sono e dizer o quanto eu te amo. Eu sinto falta da tua preocupação excessiva, quando tu me pedias para avisar que cheguei bem em casa ou que estava tomando o remédio certinho para me curar de um resfriado qualquer. Eu sinto falta da tua gentileza, de quando me empestavas o teu casaco quando eu estava a morrer de frio. Eu sinto falta de acompanhar a tua rotina. De saber se o teu armário ainda continua arrumado, depois daquela vez que eu gastei algum tempo a organizá-lo. Se os móveis da tua casa mudaram de lugar.

Eu sinto falta de te abraçar e saber que tenho um porto seguro, de sentir que tenho alguém para me proteger e cuidar. Eu sinto falta de aprender contigo tudo o que tu me ensinavas. Eu sinto falta do teu toque, que secava as minhas lágrimas quando elas insistiam em cair. Eu sinto falta de tu me dizeres que tudo iria ficar bem, que era apenas uma fase difícil, mas que tu estarias comigo para me ajudar. Eu sinto falta de ler o teu nome no meu telefone, seja de uma ligação para lamentar a saudade ou uma mensagem para dizer que tu estavas feliz porque nos iamos encontrar mais tarde.

Eu sinto falta dos nossos domingos sem fazer nada.

Nunca precisámos de muita coisa, apenas a nossa vontade em estarmos de mãos dadas. Não importa o que estivéssemos a fazer, era sempre tempo bem passado e eu sentia-me bem. Eu sinto falta da nossa calma, quando pedíamos um ao outro para ter paciência e para respirar um pouco mais fundo quando algo não corria bem. Eu sinto falta de tanta coisa, dos mínimos detalhes que só a gente sabe.

Eu sinto a tua falta, mesmo. Não é apenas saudade! A saudade bate forte e depois vai embora, de quem um dia foi e depois volta. Falta é aquilo que consome e não passa, de alguém que um dia foi e sabemos que, talvez, nunca mais volte.

Agora eu tento acreditar que se as coisas correrem desta forma, então já eram para ser assim, aliás, não eram para ser. Ou então duraram apenas o tempo que deveriam durar, sem culpas.

Eu tenho pensado sobre isso… a verdade é que eu sinto a tua falta, e tu sabes que eu sinto, mas finges que não sabes ou que não queres saber.

Por isso acho que não mereces ouvir a palavra “saudade” da minha boca.

Por: Jéssica Pellegrini

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