Verdades universais existem, e eu tenho medo de sofrer com a mais previsível de todas. Essa verdade chama-se desilusão, aconteça o que acontecer na minha vida irei sofrer desilusões.

Vou ser desiludida por outros e, eu também, irei desiludir uns quantos corações.

Este é o pior dos meus medos pois torna-me racional.

Impede-me de desfrutar dos pequenos momentos, pois estou demasiado preocupada em antecipar as consequências negativas, que aqueles segundos de felicidade, me poderiam trazer.

Sou uma pessoa difícil de compreender, que toma decisões que para a maioria não fazem sentido mas, contigo, encontrei alguém que não me julga nem vai julgar. E porquê? Porque somos iguais. Não quer dizer que isto seja num sentido romântico do género “Estou irremediavelmente apaixonada por ti”. Não. É algo mais do que isso. É algo que vem do passado. É outra vida. Um sentimento novo. Mas será novo por ser só meu? Ou será novo para os dois? Será que o vamos viver e descobrir em conjunto? Lá estou eu a racionalizar novamente…vício tramado!

Contudo, existe um momento do dia em que tudo fica bem.

Perfeito. Quando a luz esmorece, eu me deito coberta pelos lençóis azuis, ponho os fones nos ouvidos enquanto ouço uma música e penso em ti. Vejo as coisas como elas são e foram, no que dissemos e fizemos, apenas isso. Vejo-te pelo que és e não pelo que podias ser. O que podíamos ter.

Não passam de pensamentos. Tu és comprometido e isto não vai avançar, por isso, quando já tiver passado demasiado tempo, quando se tornar tarde demais para nós resultarmos, eu vou encontrar o meu lugar, a
minha paz de espírito. Quando isso acontecer vou-te agradecer porque tu surgiste e me ajudaste – mesmo que não o saibas.

Garanto que irei encontrar alguém que me aqueça a alma e que me ame e, quando eu já estiver longe demais, baixa a tua guarda e faz o mesmo. Precisas disso mais do que tudo. Depois de tudo isto estar guardado dentro de uma vida pequenina, posso garantir-te que sempre serás lembrado. És tu que vou usar como exemplo quando quiser explicar o que é o amor à minha filha. Vais ser tu o exemplo de homem a seguir. Vais ser a desilusão, a dor e a angústia que depois renasce das cinzas em forma de fé, esperança e alegria. Vais ser tudo apesar de nunca teres sido nada.

Vais-me ajudar a secar as lágrimas depois, e vais fazer com que ela me dê um abraço caloroso. O mais incrível é que nem vais saber e, esses momentos, irás vivê-los com um outro alguém.

Vai ser assim que eu vou libertar os meus segredos e nem os deuses me vão impedir.

Eles vão sair pouco a pouco do meu corpo, e à medida que saem transformam-se em dias melhores. Irei sentir a necessidade de guardar estas palavras melancólicas para mim e pararei de conjurar um cântico a partir de gemidos. Não me vais ouvir.

Afasta-te das paredes da muralha que te cerca. Afasta-te das vozes que ecoam pelos corredores da tua casa e que dizem que estás bem assim.

Segue em frente, enquanto eu me mantenho do meu lado da rua, mais limpo do que os nossos pés latejantes caminharam algum dia juntos. Um novo percurso começa.
Comecei o texto com racionalizações e acabo-o com especulações.

Imagem de capa: Roman Babakin, Shutterstock